top of page

Imagem em Carne Viva

 

A partir da proposição de três filmes inscritos no festival, esta mostra pretende provocar e refletir a partir do nu na imagem. Em quase todos os filmes, a/o realizadora é também personagem, entra em cena transformando o quadro em mais do que um espelho ou laboratório de memória. A criação de imagens é tida aqui como produção de devires. O nu é, em quase todos estes filmes, mecanismo de inscrição e escrita de si, reconstituindo um corpo, refazendo imaginários e rompendo fronteiras, prisões, silenciamentos, silêncios e violências.

Tomando emprestada a metáfora do filme Arco do Medo, de Juan Rodrigues, estes filmes aqui reunidos Supervivem. Mais do que a necessária fala e denúncia da morte matada, dos assassinatos e violência estrutural que nos dilacera todos os dias enquanto minorias políticas, estes filmes travam em suas formas, em seus arcos dramáticos, novas maneiras de reagir, de indagar a persistência de determinadas violências coloniais e, sobretudo, nos convocam a repensar nossos lugares e corpos diante deles, através do corpo e da ferida na imagem que se insinua e nos enfrenta.

É a imagem em carne viva por ser, em muito dos casos, o trauma, a ferida aberta e ao mesmo tempo o reprocessamento, o questionamento, a busca de curar-se com a imagem e com seu potencial de partilha e de encontro com o outro.

O choro em A Liberdade não veste camisa de força, de Áquila Jamile, a bicicleta e a piscina da memória em Ana, de Camila Andrade, a retirada da fita adesiva em Arco do Medo, de Juan Rodrigues, a despretensiosa liberdade da personagem de Varal, de Carla Caroline, os espelhos na ruína e o corpo nu na terra em Eu, Travesti?, de Leandro Rodrigues, a estátua de bronze de Zumbi dos Palmares e o transitar do corpo de Michelle Mattiuzzi pelas ruas do Rio de Janeiro em Experimentando o vermelho em dilúvio, da própria Michelle Mattiuzzi... Diferentes formas e graus de nudez,  diferentes formas do corpo na imagem, diferentes formas de voltar ou dar a ver a dor; em muitos do casos o corpo nu para enfrentar, refletir, transformar ou reorientar a própria dor; em outros e em paralelo, a ferida aberta para tratar e curar-se pela imagem ou, pelo menos, para indagar e insurgir às violências e violações de direitos mais básicos. Em suma, estes filmes mobilizam o ato mesmo de vê-los como um ato político de imbricação.

Curadoria: Fabio Rodrigues Filho.

MOSTRA ESPECIAL IMAGEM EM CARNE VIVA (60 min)

06/05 às 18:00h - Escola Municipal Edaléio Barbosa

VARAL

Dir. Carla Caroline | 2017 | BA | Experimental | 16 anos | 4 min

 

Sinopse: Um filme sobre sutileza.

ANA

Dir. Camila Camila | 2015 | BA | Documentário | 14 anos | 20 min

Sinopse: Ana se move em uma poética que toca as inquietações do corpo, das relações de gênero e da família. Veste-se dos relatos de cinco irmãs criadas no recôncavo da Bahia entre as décadas 1960-1980 e da educação dada por sua mãe; minha avó, professora e psico maníaca depressiva. Um filme em mim. Indícios, fragmentos de vida que me compõem. Histórias familiares, especialmente as que identifico-me enquanto mulher. A memória é um instrumento de ficção.

A LIBERDADE NÃO VESTE CAMISA DE FORÇA

Dir. Áquila Jamille | 2017 | BA | Documentário | 16 anos | 2 min

Sinopse: "O espírito da gravidade é o maior inimigo de um devir nuvem".

EU, TRAVESTI?

Dir. Leandro Rodrigues | 2014 | BA | Documentário | 16 anos | 16 min

Sinopse: Um corpo e uma voz nus diante do mundo.

O ARCO DO MEDO

Dir. Juan Rodrigues | 2017 | BA | Experimental | 14 anos | 10 min

 

Sinopse: Um relato de insurgência. masculino e feminino caem perante um corpo negro que resiste na busca por liberdade e tempo. borrando os limites do gênero, na tentativa de simplesmente ser. um corpo negro que supervive. o arco do medo é a segunda parte de uma trilogia de experimentos audiovisuais que tenta explorar questões de ancestralidade do corpo e espaço da bicha preta.

EXPERIMENTANDO O VERMELHO EM DILÚVIO II

Dir. Michelle Mattiuzzi | 2016 | RJ | Documentário | 16 anos | 8 min

Sinopse: O filme Experimentando o Vermelho em Dilúvio II surge a partir de uma ação performativa, que fiz ao vivo na cidade do Rio de Janeiro, RJ (2016). Foi uma caminhada ritual para a Estátua de Zumbi dos Palmares, próximo da Estação Central do Brasil, no centro da cidade do Rio. Esta rota é o fio da narrativa deste trabalho. Neste filme, refiro-me à pesquisa de Grada Kilomba sobre a política do discurso negro na economia das plantações.

bottom of page